Crônicas do Reino de Aviar
Reino de Aviar - um minúsculo país localizado num continente banhado pelo sol o ano inteiro.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Transporte Coletivo de Passageiros I
Não é fácil andar de ônibus nas grandes metrópoles, em Aviar principalmente. Certa feita, este escriba foi fazer uma visita à um habitante que reside num bairro distante e para tal precisou andar de ônibus. O sistema de transporte de coletivo de passageiros em Aviar é todo feito através de terminais de linhas de ônibus, construídos em locais estratégicos dentro da cidade, de modo a atender melhor a população.
A princípio, o sistema implantado pela Rainha Ma nos dá a impressão de que há uma melhora na vida dos habitantes do reino que precisam se locomover em ônibus. Mero engano, esse malfadado sistema foi elaborado justamente para trazer transtornos aos seus usuários do transporte coletivo. Se não vejamos:
- Os motoristas e cobradores, em sua maioria, são pessoas brutais, que receberam treinamento específico de como tratar mal o passageiro;
- Os terminais são construções sem nenhum conforto, com sanitários imundos e projetados para receber pouca gente, o que não ocorre, pois nos horários de pico, o número de usuários ultrapassa em quase dez vezes a sua capacidade;
- Os ônibus, mesmo os mais novos, não oferecem comodidade aos passageiros, pois as suas cadeiras são estreitas, para dar mais espaço aos corredores, que ficam abarrotados de pessoas, perfazendo assim, uma superlotação;
- Os idosos, deficientes físicos e crianças são o “alvo” predileto dos motoristas. São esses usuários que mais sofrem maldades por parte dos condutores de ônibus.
Mas a história que vou contar, refere-se à viagem que precisei fazer para visitar o citado habitante, que reside distante das nababescas instalações reais.
Embarquei no “coletivo” que se dirigia a um dos terminais da periferia da grande Aviar. Lá, ao adentrar no recinto, o motorista desenbarcou do veículo, juntamente com o cobrador, deixando todos os passageiros no interior do ônibus, com as portas fechadas. Era horário de refeição e os dois valorosos funcionários do setor de transportes deviam estar com muita fome, pois desceram apressados. Da janela em que me encontrava pude acompanhar todos os passos da operação desencadeada pelos dois. Um deles, o cobrador, adquiriu em um quiosque uma porção de uma sopa que tinha como destaque um grandioso osso boiando no interior do prato. O motorista, de hábitos alimentares mais brandos, bebia o conteúdo de um copo, que consistia numa substância de coloração esverdeada, acompanhada de um petisco, um pouco avantajado, que ao ser mordido, deixava escorrer óleo pelos cantos de sua boca. Cumprido o ritual alimentício, os dois paladinos do transporte retornaram ao veículo, não sem antes beberem um copo de água de côco, que lhes foi servido por um vendedor ambulante que conduzia um carrinho com um adereço imitando um côco gigante.
Decorridos mais de vinte minutos foi dada velocidade ao veículo, que ardia de tanto calor, pois o horário era vespertino e o sol não dava trégua. Com o passar dos primeiros minutos de viagem e com o “sacolejar” do ônibus, algumas transformações começaram a ocorrer nos nossos condutores, era notória a mudança de aspecto dos mesmos. O rosto do motorista começou a “esverdear” e seus corpo “sacudia” em pequenos esparmos, dando uma impressão de início de vômito. Mas o nosso valente condutor segurava o mal estar e dirigia seu veículo com perfeição, passando por dentro de todos os buracos das ruas, dando “fechadas” nos outros veículos e apertando o freio bruscamente, ou seja, atuando normalmente como manda o manual do motorista de ônibus do Reino de Aviar. O cobrador, coitado. Esse estava de fazer dó. O efeito devastador do alimento ingerido atuou de outra forma, ou seja, não foi por cima como o seu colega, parece que a “coisa” queria sair era por baixo!
Não houve jeito. O motorista parou o ônibus no primeiro posto de gasolina que encontrou e o cobrador, em disparada carreira, já demonstrando os sintomas do que estava sentindo, pois algo de coloração amarelada lhe escorria pelas pernas, saindo pelos tornozelos e sapatos. O motorista, por seu lado, não precisou ir muito longe, colocou toda aquela mistura que havia ingerido anteriormente, para fora, ali mesmo, perto da porta do veículo que conduzia.
Minha viagem foi interrompida ali, pois tivemos que aguardar a vinda de uma outra equipe de eficazes condutores, para que o trajeto do veículo fosse concluído. Os outros dois, em lamentável estado, foram levados à empresa, quiçá tenham recebido alguma condecoração por terem maltratado, tanto a si mesmos como a nós, pobres usuários de ônibus do sistema de transportes urbano de passageiros do reino de Aviar.